sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A América Racista: Intolerância, Preconceito e Ódio nos Subterrâneos dos Estados Unidos


Barack Obama consolidou sua vitória nas eleições presidenciais dos Estados Unidos construindo um poderoso leque de alianças com diversos setores da sociedade estadunidense, incluindo neste nicho os setores financeiros mais poderosos e apoios de grupos multirraciais. De um quase desconhecido senador democrata do estado de Illinois em 2004 para o homem no cargo mais poderoso do planeta, o “fenômeno” Obama não apenas angariou amplo apoio em torno do seu nome, mas também poderá suscitar os intranqüilos fantasmas xenófobos dos escombros de uma sociedade que busca impor fora do seu território um modelo imperialista com a cosmopolita bandeira da democracia (claro, nos moldes da política estabelecida por Washington).

O fato de ser o primeiro presidente negro da história estadunidense não apenas se tornou motivo de grande esperança e entusiamo para comunidade afrodescendente daquele país, mas sobretudo passou a vingar um sentimento de insegurança e preocupação para o serviço secreto dos Estados Unidos. Após o rescaldo da euforia eleitoral proveniente da Onda Obama, certamente um dos grandes desafios do futuro presidente estadunidense é garantir o cumprimento do seu mandato ileso, se esquivando fisicamente do ódio racial de grupos fascistas que ainda lutam pela “supremacia branca” dentro do interior dos Estados Unidos. Certamente, se manter vivo nos próximos anos não será uma tarefa muito fácil para o presidente Obama e seus seguranças. Desta vez, o "grande mal" não serão os propalados “terroristas” de Osama Bin Laden ou grupos extremistas muçulmanos espalhados pelo Oriente Médio e Ásia que salvaram do ostracismo a administração do primeiro mandato de George W. Bush e mobilizou o império para sua babilônica “cruzada contra o terror”. Ao ganhar a inédita corrida à Casa Branca, Obama correrá o risco de dormir com o inimigo e não acordar mais de seus sonhos.

Segundo matéria do diário carioca, Jornal do Brasil, a ONG estadunidense Southern Poverty Law Center (SPLCenter), com sede no estado do Alabama, mapeou 762 grupos racistas nos Estados Unidos, ligados a seis organizações diferentes. Desse total, 161 são agrupados na categoria ''outros'', que não têm uma linha específica de ação. Destaque para as três principais organizações que pregam a xenofobia explícita dentro dos Estados Unidos: a histórica Ku Klux Klan, os neo-nazistas que são os resquícios da ideologia do nazismo alemão e um nicho de afrodescendente de intolerância reunidos nos Separatistas Negros.

A Ku Klux Klan, a mais antiga das organizações racistas que apregoam o catecismo da “supermacia branca” dentro do território estadunidense, tem 162 grupos associados e surgiu no fim da guerra Civil, em 1865, quando perseguia os negros no Sul do país. Ao longo dos anos, estendeu seu ódio aos judeus, homossexuais e, mais recentemente, aos católicos. Há oito décadas, os números da Ku Klux Klan impressionavam: cerca de 5 milhões de integrantes. A matéria do Jornal do Brasil ainda ressalta que o SPLCenter admite que o número atual é estimado em 7 mil integrantes e poderá ser maior, uma vez que hoje em dia muitos dos filiados preferem manter sua identidade em segredo.

A segunda maior organização xenófaba são os neo-nazistas, com inspiração nas pregações de Adolf Hitler que comandou a política do nacional-socialismo (nazismo) na Alemanha (1933-1945). A facção estadunidense neo-nazista concentra seu ódio nos judeus, mas também perseguem gays e cristãos. Têm 158 grupos cadastrados. Também atacam os judeus 28 grupos ligados à Identidade Cristã, de brancos. Pouco antes da vitoriosa eleição de Obama, a inteligência secreta dos Estados Unidos prendeu dois jovens neo-nazistas em solo estadunidense acusados de armarem um suposto plano para assassinar o então candidato democrata.

Os Separatistas Negros representam os valores xenófobos da “supremacia negra” estadunidense e têm 108 grupos cadastrados e são a terceira maior organização racista do país. Tal grupo se opõe à integração das diferentes raças chegando até mesmo a pregar a criação de uma nação negra. E, embora formada por integrantes de uma das minorias atacadas pelos segregacionistas brancos, é considerada pelo SPLCenter tão racista quanto as outras organizações. O paradoxo pode ser preocupante se o ódio extrapolado de um grupo que exalta uma “supremacia negra” arquitetar contra a vida de um representante afrodescendente, uma vez que é possível que seus membros possam se sentirem “traídos” ao longo da administração de um presidente negro.

Segundo a Agência AFP, o site do Ku Klux Klan, advertiu nesta semana para as conseqüências de uma administração Obama. "Muitos brancos deste país vão despertar", com a eleição de Obama, afirmou um intitulado Thomas Robb. Ainda seguindo a matéria da Agência AFP, em carta ao serviço secreto estadunidense, Bernnie Thompson, um membro do Congresso negro de Mississippi, escreveu "Como afro-americano que foi testemunha de alguns dos dias mais vergonhosos da história deste país durante a luta do movimento pelos direitos cívicos, sei que o ódio de alguns dos nossos concidadãos pode levar a horríveis atos de violência".

Não apenas grupos racistas que se declaram abertamente ou franco-atiradores de típicos assassinatos em massa dentro das escolas estadunidenses se constituem num real perigo para o presidente Obama. É importante destacar que grandes interesses de grupos políticos e econômicos são os maiores assassinos de líderes ao longo da história da humanidade. Para o mesquinhos interesses das “corporações”, as grandes empresas do capitalismo mundial, nada e absolutamente nada parece está acima dos seus lucros bilionários. Como bem ressaltou matéria da Agência AFP: “A cor do novo presidente é apenas uma das fontes de preocupação suplementares, em um país que tem 200 milhões de armas de fogo responsáveis por 30.000 mortes por ano, onde quatro presidentes foram assassinados no exercício de suas funções e onde vários outros foram alvos de tentativas de assassinato.”

Os assassinatos de ativistas e líderes negros é tão enraizados na cultura de grupos xenófobos estadunidenses que as preocupações com a segurança de Obama serão cada vez maiores. Naturalmente, qualquer um no cargo de chefe-mor da Casa Branca que tem a envergadura de poder acionar o maior arsenal bélico do mundo e destruir a Terra por completo, independentemente de qualquer situação fora da "normalidade" já causaria grande celeuma na equipe de segurança pessoal. Adicionando a cor da pele, a tarefa para o serviço secreto de proteção ao presidente irá se multiplicar. Martin Luther King e Malcom X, dois dos principais nomes do ativismo negro estadunidense assassinados na década de 1960 pelo ódio racial são trágicos exemplos que a barbárie é tão resistente quanto o desejo de liberdade e emancipação humana.


Para ler mais

AGÊNCIA AFP. Um dos próximos desafios de Obama será sua própria segurança. 6 Nov 2008. Disponível em: http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2008/11/06/ult34u213872.jhtm. Acesso em 6 Nov 2008.


Nenhum comentário: